está um calor por aqui, mas isto não está certo, está um calor e é o inverno e o inverno devia ser frio, como os teus pés, e o sorriso do senhor silva, que está a dar na televisão, o senhor silva é o presidente de todos os portugueses e eu gosto muito dele pois tem cara de quem faz um cafuné agradável, como as ruguinhas que a pele dos teus braços faz, quando os comprimes junto ao corpo, e o senhor silva também tem ruguinhas mas na cara, que são das preocupações que se tem quando se é presidente de todos os portugueses, que se fossem todos como eu era uma chatice, e umas grandes ruguinhas no corpo todo, não era só na cara, mas eu não sou português, sou só um bocadinho, os meus avós trabalhavam a terra em sarajevo, até que uns homens saíram do seu cantinho e foram ao cantinho dos meus avós, e mataram-nos, o meu avô ficou com as tripas de fora, mas estava a sorrir, mas tinha os dentes podres, pois a terra faz isso às pessoas, não era um sorriso bonito, e é por isso que uso este nome, com muito orgulho pelos meus avós que morreram com as tripas de fora em sarajevo e tinham os dentes podres, mas os meus outros avós viveram em palácios e às vezes iam ao casino, como os teus avós, que são queridos e eu gosto muito deles, mas gosto mais de ti, porque às vezes vemos filmes antigos do godard no sofá, que são filmes que estavam muito à frente do seu tempo, e ninguém os percebia, nem o godard, que também nunca percebeu a jean seberg, só a brigitte bardot, quem percebeu a jean seberg foi o philippe garrel, que fez aquele filme, mas esse eu nunca vi contigo.
(Anthony Goicolea)