22.11.08

Novembro



Emanuel era um rapaz, como dizer, um rapaz estranho. Raramente falava; raramente o ouvíamos. Comunicava por olhares em vez de palavras. E que olhares: vesgos, maldosos, argutos, a um tempo frios a outro ardentes, sempre desdenhosos. A sua voz, na única ocasião em que a escutei, soou-me nasalada, ridícula, indigna de um bípede racional. Não, Emanuel não falava; para quê, se os olhos constantemente cravados nos meus, insultavam e doíam mais do que qualquer palavra. Nestes olhos que em tempos foram jovens, que amaram e odiaram, olhos em colisão, activos e curiosos, que viram a nudez de florbela como ninguém até então, nem mesmo a mãe que a pariu, bela, belíssima florbela, a vira, Emanuel depositou todo o seu desprezo; demasiado, creio.

(Larry Clark)