Se por imoderada estupidez, alguém me pedisse para elaborar uma lista de autores favoritos do Século XX e eu, movido de imoderada estupidez aceitasse tal proposta, na dita lista não faltariam Kafka, Proust, Borges, Joyce e até, pasme-se, Norman Mailer(caso de amor antigo, a desenvolver um dia destes). Consensual, portanto. Imagine agora, caro leitor, que a tal pessoa, munida da tal imoderada estupidez, lança como quem não quer a coisa, inane desafio, com o intuito de me levar a elaborar lista de autores portugueses das últimas duas, hum, três décadas do Século XX. Bem, neste caso, seria forçado a rejeitar, não que não goste de me dedicar a tarefas inúteis, obscenamente pedantes, idiotas e exibicionistas, mas na verdade não conheço nenhum, nunca li nenhum e a não ser que o Eça renasça das cinzas para fazer recomendação, não pretendo ler nenhum autor português deste período. Obviamente que esta negativa veemente não se aplica ao monstro de duas faces LoboSaramago. Da metade Lobo li o Manual dos Inquisidores do qual apenas tenho a dizer que me abstenho de dizer o que quer que seja. Da metade Saramago, li o Memorial do Convento, que é, segundo a minha extremamente conservadora avó, tão conservadora, aliás, que só bebe Earl Grey puro, um livro execrável e a obra-prima, provavelmente escrita pelo irmão talentoso que Saramago mantém trancado no armário, O Ano da Morte de Ricardo Reis. Agora que qualifiquei o A. M. R. R. de obra-prima, suponho que o leitor, que se por capricho da fortuna, calha ser um infeliz e incauto literato, já deve estar perto de vomitar o foie gras delicadamente ceado, esteja à espera que me aguente e monte edifício teórico para suportar tamanha enormidade. Embora seja um idiota e muito gostasse de o impressionar, ultimamente a vida corre mal e não tenho paciência para mais.