31.1.07

Ficção I

Sofria muito. Mas não dramatizava. Afinal os três Jack Daniels matinais não lhe deixavam tempo para sentir o que quer que fosse, tomavam-no e levavam-lhe todos os prazeres, os contos de Chesterton, as peças de Bach, as mulheres e o sofrimento. Sobretudo o sofrimento.
Sofria do fígado, da garganta, tinha grande parte dos dentes podres, os outros esverdeados, os olhos sanguíneos e míopes. Sofria do pâncreas dos rins, do coração, a perna esquerda torta devido a inúmeras fracturas. Sofria das costas, do estômago, já não usava o caralho há mais de dois anos, nem para mijar, pois fazia-o por um tubo. Só o cu não lhe doía. Fodasse, como se orgulhava disso. Paneleirices ou prisão de ventre, comigo nunca, não sou desses, sou homem muito muito homem. Mal sabia, que nas suas costas, Carlão, um jovem calmeirão munido de cerca de vinte e dois anos de idade e vinte e três centímetros de comprimento, esperava apenas o momento oportuno para deixar cair o sabonete.