17.5.08

rapsódia (fica bonitinho aqui)

Hoje fui à livraria para te ver. Não te vi. Comprei dois livros de Flaubert, a Bovary e o Frederico, em edição de bolso merdosa, sem introdução e com uma contextualização de duas linhas. Custaram-me cinco euros cada um, a Bovary e o Frederico.
Não sei porquê, fui à livraria para te ver. Pouco lês e não consta que frequentes livrarias. Sentei-me na cafetaria e pedi um chá preto, tu nunca bebes chá, eu bebo e ainda bem.
A rapariga andava de um lado para o outro, cheia de calma, sonhadora, alheia ao movimento à sua volta, alheia aos clientes que insistentemente a chamavam, aos cafés, ao absinto dos literatos, ao chá das velhas de cabelo em laca e dedos em ouro, ao meu chá preto, ao meu chá.
Não olhou sequer para mim. E como era bela a rapariga, com que graça usava o avental verde, a camisa branca, a plaquinha sobre o coração, Emma. Como a Bovary.
Não me custou imaginá-la nua. Pouco me custa imaginar uma rapariga nua. Principalmente se chamada Emma.
O que me custa é pensar em ti. Agora que já não preciso de te imaginar nua. Agora que és tangível deixei de frequentar livrarias. Abandonei a Bovary a meio e nem peguei no Frederico.
Mas gostava mais do antes. Gosto sempre mais do antes.